Selic em Alta: Impactos na Economia e no Bolso dos Brasileiros
A taxa Selic, atualmente em 12,25%, continua em trajetória de alta, refletindo as incertezas fiscais e econômicas no Brasil. De acordo com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (17), o Banco Central (BC) projeta novas elevações de até 1% nas próximas reuniões, o que pode levar a Selic a 14,25% ao ano. No entanto, os mercados futuros já apontam para um patamar ainda mais elevado, com previsões de 16,25% em meados de 2025.
Os Motivos por Trás da Alta
A elevação dos juros é uma tentativa de conter as pressões inflacionárias que persistem na economia brasileira. A inflação acumulada dos últimos 12 meses está em 4,87%, acima da meta oficial de 3%, impulsionada por fatores como maior consumo, estímulos fiscais e formalização do mercado de trabalho. Apesar do crescimento do PIB em 3,5%, especialistas como André Muller, da AZ Quest, alertam para o descompasso entre uma política fiscal expansionista e uma política monetária contracionista, que aumenta os riscos macroeconômicos e afeta a taxa de câmbio.
A transição de comando no BC também trouxe expectativas adicionais. Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência em 2025, terá um papel decisivo na condução da política monetária. Felipe Vasconcellos, da Equus Capital, destaca que a primeira reunião sob Galípolo será crucial, diante do aumento da pressão inflacionária e da recente alta do dólar.
Impactos no Bolso dos Brasileiros
As elevações da Selic têm efeitos diretos no dia a dia da população. Juros mais altos encarecem o crédito, desestimulam o consumo e promovem a desaceleração econômica. Esse ciclo afeta tanto as famílias quanto as empresas:
- Inflação e custo de vida: Alimentos, como a carne, já sofrem altas expressivas, prejudicando o poder de compra. Apesar de promessas de reajustes no salário mínimo acima da inflação, o impacto é limitado.
- Empréstimos e financiamentos: O custo de financiamentos, como os de automóveis e imóveis, torna-se proibitivo para muitas famílias.
- Investimentos: Enquanto a poupança oferece rendimento limitado (cerca de 6,17% ao ano), investidores mais abastados acessam títulos do Tesouro Direto com juros de até 14,56% ao ano, aprofundando o desequilíbrio econômico entre classes sociais.
Efeitos Econômicos Ampliados
A alta dos juros também impacta o mercado de ações, favorecendo investimentos em renda fixa e pressionando empresas listadas na bolsa. Além disso, o custo de produção aumenta, desestimulando investimentos produtivos e reduzindo a geração de empregos. Com a taxa de desemprego atualmente em 7,5%, o menor patamar desde 2015, a tendência é de um crescimento moderado desse índice caso o ritmo de alta da Selic persista.
Reflexos no Câmbio
A alta dos juros pode favorecer a estabilidade do dólar, atraindo capital estrangeiro para aproveitar os retornos elevados da renda fixa brasileira. Contudo, o real permanece vulnerável diante do cenário global de juros elevados nos Estados Unidos e na Europa, o que reduz o fluxo de capitais para economias emergentes. Desde o início do ano, o dólar já subiu quase 20% em relação ao real, pressionando os custos de importação e, consequentemente, a inflação.
Escolha Entre Dois Males
O Banco Central enfrenta o dilema de equilibrar dois cenários indesejáveis: manter juros altos para conter a inflação ou reduzir os juros e arriscar uma pressão inflacionária descontrolada. Economistas como Victor Gomes, da Universidade de Brasília (UnB), reforçam que, apesar de ser um “remédio amargo”, os juros altos são necessários para evitar danos maiores à economia.
A próxima reunião do Copom será decisiva para determinar o rumo da política monetária e seus reflexos no cotidiano dos brasileiros, que continuam enfrentando os desafios de uma economia em busca de equilíbrio.